Onde estão os dorminhocos?
- Rubens Szczerbacki
- 21 de jan. de 2021
- 11 min de leitura
Porque, se fomos unidos juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição (Rm.6:5). Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou! E se isso é verdade, a fé em Cristo e a pregação da Palavra, de nada nos serviria! Se as promessas e a herança de Cristo se limitam a esta terra, o viver seria Cristo, e o morrer, uma baita prejuízo, ao contrário do que disse o apóstolo Paulo. Todavia, sabemos que a morte veio por um homem, e também por um homem, a ressurreição dos mortos (1Co.15:12-21).
Ora, Nele estava a vida (Jo.1:4) e Ele é a vida! (Jo.14:6). Logo, Ele tem poder para dar Sua vida para reassumi-la. Ninguém pode tirar a Sua vida, pois Ele é a Vida! Pelo contrário, Ele espontaneamente a dá, tendo autoridade para entregá-la bem como reavê-la. Este mandamento Ele recebeu do Pai (Jo.10:17-18).
Quando Jesus se manifestou em carne para Seus discípulos após a ressurreição, mostrou Suas mãos e pés, convidou-os a tocarem-No para que constatassem que um espírito não tem carne nem ossos, como Ele tinha. E Jesus ainda estava com fome (Lc.24:39-41)!
Assim, será o corpo da ressurreição. O corpo ressurreto de Jesus tinha carne e ossos, mas não sangue. Antes da cruz, a alma e o espírito de Cristo eram divinos. E assim, após a ressurreição (quando tomou Sua vida novamente), o Seu corpo passou a ser cheio de toda natureza divina! Mesmo considerando que não havia qualquer pecado na carne de Cristo, aquilo que poderia ser chamado de mortal (esta é a justiça de Deus sendo cumprida) foi absorvido pela vida, ou seja, por Ele mesmo! Sua carne, mesmo sem pecado, não tinha mais a natureza humana! Nós, humanos, precisávamos de alguém que aniquilasse a natureza do pecado. Ele, não tendo pecado, Se fez pecado para que a Sua própria vida habitasse eternamente naquele que crê e fôssemos feitos justiça de Deus (2Co.5:21)!
Por causa do Seu corpo, Jesus tinha vida humana e vida eterna! Na cruz, Jesus derramou Sua vida como água, pois era 100% Deus, bem como verteu Sua vida como sangue, pois era 100% homem! Ele se entregou como Deus e como homem. Era necessário, entretanto, que o Espírito Santo O ressuscitasse dentre os mortos, pois Ele era como Alguém que havia passado por um novo nascimento. Ele foi o único que nasceu do Espírito e da carne, concomitantemente. Somente dessa forma, Ele poderia dar Sua vida e retomá-la! Ele jamais pecou, mas nasceu novamente. Ele é o exemplo, Ele é o primogênito dos mortos (Cl.1:18; Ap.1:5). Assim, todo aquele que morreu em Cristo, tem os mesmos direitos adquiridos! Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará pelo seu poder (1Co.6:14). Jesus disse para Marta: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá (Jo.11:25)!
Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual (1Co.15:42-44).
Mas, diria o incrédulo: uma coisa é Ele ressuscitar três dias após a morte; outra coisa é saber se Abraão poderia passar pela mesma experiência, quase quatro mil anos após. Seus ossos já deveriam estar sequíssimos ou terem se tornado pó, espalhados pelo vento. Eu explico mais adiante.
A verdade é que após a Queda, todos morrem. A matriz pecou, as cópias ficaram arranhadas, corrompidas. É certo que a nossa velha natureza foi crucificada com Cristo para que o corpo do pecado fosse completamente aniquilado e desfeito. Se morremos com Ele, cremos que com Ele também viveremos. Se com Ele fomos unidos na semelhança da Sua morte, também o seremos na da Sua ressurreição (Rm.6:5-6).
Todavia, mesmo sendo justificados pelo sangue de Cristo e tendo o selo do Espírito para possessão eterna, a morte física ainda é uma realidade, mesmo para aquele que crê. A salvação não nos poupa da morte física! Sabemos que há um grupo de crentes que serão transformados à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, no arrebatamento da Igreja (1Co.15:52; 1Ts.4:13-17), recebendo corpos de glória, e que somente Enoque e Elias não passaram pela experiência da morte física. Mas todos os demais aguardam o dia da redenção do corpo.
Para o sábio, o caminho da vida é para cima, para que ele se desvie do inferno que está embaixo (Pv.15:24).
Antes da ressurreição de Cristo, todas as almas desciam ao Sheol: ímpios e justos. Sheol é a expressão hebraica para habitação das almas dos mortos. É o mesmo que Hades, no grego. No entanto, havia um abismo intransponível entre eles. A base para tal afirmação está na narrativa do rico e Lázaro (Lc.16:19-31). O primeiro, fiel a Deus, foi levado para o Seio de Abraão, estando em gozo e paz. O rico foi para o Hades, onde experimenta angústia e sofrimento terrível. Mas Cristo foi ao inferno e libertou os santos da Antiga Aliança (Mt. 12.40).
Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas (Ef.4:8-10). Agora estamos falando do Paraíso (Lc.23:43; Ap.2:7) ou do Terceiro céu (1Co.12:2).
Em Gn.44:29, Jacó diz que se José fosse afastado de sua presença, faria descer suas cãs com pesar ao Sheol, erroneamente traduzido por sepultura. O Sheol ou Hades é o mesmo que Inferno. Não é o lago de fogo e enxofre para onde se encaminharão os mortos após o Juízo Final. Geralmente a cultura popular associa a expressão inferno a este lugar definitivo. Este é o Gehenna, que tem origem no hebraico Gê Hinnon (vale de Hinon, vale de Tofete), onde crianças eram sacrificadas a Moloque e outros deuses pagãos (2Rs.23:10). Em 2 Pedro 2:4, lemos a expressão precipitando-os no inferno, que traduz o original grego precipitando-os no Tártaro. Tártaro, para os gregos, corresponde ao Gê Hinnon dos judeus, e é o estado final no lago de fogo e enxofre. O Hades fica nas regiões espirituais mais baixas da terra (Ef.4:9).
Os não salvos têm consciência de que estão num lugar de tormento por terem pecado e rejeitado o Salvador. Suas almas (e penso que seus corpos do pecado também) padecem em sofrimento eterno até o dia do Juízo Final. Ali serão julgados e condenados, sendo lançados para sempre no lago de fogo (Ap.20:11-15).
Mas onde estão as almas daqueles que foram justificados? E como se dará a redenção do corpo?
Quando o cristão morre, sua alma é imediatamente levada para a presença de Deus. Se em carruagens espirituais e cavalos de fogo, não sei, penso que os anjos se encarregam de tal serviço. Muitos não têm certeza se devemos referir como alma ou espírito. A alma também é espiritual, metafísica. Enquanto atrelada a um corpo, ela é responsável pelas vontades e sonhos, pelas emoções e sentimentos, pelas alegrias e tristezas, pelo pensamento e intelecto. O modelo do tabernáculo na terra nos ensina um Santo lugar e um Santíssimo lugar ou Santo dos santos, antes da cruz separados por um véu, que após o brado de Cristo quando entregou Seu Espírito ao Pai, rasgou-se de alto a baixo, em duas partes. Tremeu a terra, fenderam-se as rochas, abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram. E, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos (Mt.27:51-53). No céu não há Santo lugar! Tudo é santíssimo! Assim como o átrio do tabernáculo corresponde ao corpo físico, o Santo lugar é associado à alma, enquanto o espírito representa o Santíssimo lugar. No céu, a alma é absorvida pelo espírito. A todos que conhecemos na terra, reconheceremos no céu, não com os mesmo desejos que aqui temos ou tínhamos, não com influência da alma humana ou da carne do pecado, mas haverá certamente uma testificação espiritual. Quando você encontrar sua amada, ela estará com um rosto espiritual de 17 ou 18 anos, sorrindo de uma forma tão doce pra você, e ambos os espíritos testificarão que na terra foram casados, sendo certo que não haverá o desejo carnal que antes caracterizava a relação de um casamento. A alma guarda a memória. O espírito humano vai absorver as coisas boas da alma. Ninguém vai se lamentando ou se lembrando de tristezas, frustrações, doenças, angústias ou morte. Não há lágrimas no céu! Nossas lágrimas estão devidamente bem guardadas em outro lugar! A alma é eterna! Vamos considerar, então, uma alma espiritual, uma alma na essência de um ser espiritual que, uma vez salvo, aguarda em gozo eterno um corpo de glória.
Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef.5:14).
Seja como for, não foi sem propósito que Jesus disse que Lázaro, irmão de Marta e Maria, havia adormecido, mas Ele iria despertá-lo (Jo.11:11). Da mesma forma, quando ressuscitou a filha de Jairo, disse que a menina não estava morta, mas dormia (Lc.8:52). No contexto do arrebatamento da Igreja, Paulo disse que os vivos que ficarem até a vinda do Senhor não precederão os que dormem (1Ts.4:15). Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele as primícias dos que dormem (1Co.15:20). Assim, usavam o verbo dormir (gr. koimao) como uma metáfora para referir-se à morte. Aquele que morreu em Cristo está como se estivesse dormindo até o momento propício. Não mais morrerão, serão como os anjos e são filhos da ressurreição (Lc.20:36). Se dome, estará salvo (Jo.11:12).
As almas dos mortos sem Cristo são levadas imediatamente para o inferno (gr. Hades; hb. Sheol), com total consciência e memória. A narrativa do rico e de Lázaro nos permite afirmar isso (Lc.16:24-31). Penso que seus corpos do pecado também, pois ali a natureza do pecado permaneceu! Corpo e alma corrompidos e condenados. A Bíblia nos ensina que aqueles que estão nos sepulcros ouvirão o som da trombeta de Deus e sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação (Jo.5:28-29). Isto é, muito dos que dormem no pó da terra ressurgirão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno (Dn.12:2). Os justos reinarão com Cristo durante mil anos na terra. Seus nomes estão inscritos no Livro da Vida. São bem- aventurados e santos, pois têm parte naquilo que a Palavra chama de primeira ressurreição. Sobre estes não tem poder a segunda morte, enquanto os outros mortos não reviverão até que se complete o reino milenar na terra (Ap.20:4-6). No fim do milênio, os demais mortos serão julgados e condenados pelas coisas que estão escritas nos livros que contêm a história em vida de cada um. A morte e o inferno serão lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, será lançado no lago que arde com fogo e enxofre (Ap.20:11-15). Por enquanto, não há ninguém naquele lugar terrível de condenação eterna! Só após o Juízo Final!
Marta sabia que haveria uma ressurreição, quando chorava pela morte de seu irmão Lázaro (Jo.11:24). Mas como se daria tal ressurreição? Será que há um departamento no céu com vestes glorificadas, guardadas em cabides de lojas de departamento celestiais para serem tiradas do armário no dia da ressurreição?
A gente até consegue imaginar um corpo estendido num caixão intacto, ossos em seus devidos lugares, que numa hora determinada por Deus ouvirá um som espiritual de uma trombeta, cujas notas estão desde a eternidade compostas para esse objetivo! Mas onde estão os restos mortais daqueles mártires que queimavam, enquanto iluminavam as ruas de Roma, quando Nero era seu imperador? Onde estão as cinzas dos irmãos que optaram em serem cremados? Onde está o que sobrou dos justos engolidos pelos leões nas arenas do passado ou pelos tubarões nos altos mares? Isso seria um limitador para Deus?
Então eu me reporto ao texto conhecido de Ezequiel 37:1-14, sobre o vale dos ossos secos. A maioria dos comentários desta narrativa alude à fundação do moderno Estado de Israel, em 1948, associando-a ao horror, conforme fotos conhecidas de ossos acumulados de judeus mortos pelos nazistas na segunda grande guerra, lançados em vales, em forma de sepultura comum.
Não posso afirmar que tal interpretação não deva ser aplicada a esse contexto, todavia, creio que essa narrativa alude primordialmente à ressurreição dos mortos. A cena é totalmente espiritual. O profeta Ezequiel diz que a mão do Senhor o levou até um vale onde havia ossos sequíssimos, ou seja, ossos de pessoas que haviam morrido há muito tempo! Então o Senhor emprega uma retórica, sabendo que a lógica para a resposta daquela pergunta não poderia ser outra, a não ser: não!
- Ezequiel, esses ossos poderão viver – pergunta o Senhor. Sabiamente o profeta responde: - Senhor, tu o sabes!
- Então Ezequiel, profetiza para que os ossos ouçam a minha voz, através de você e diga para ossos que eu farei entrar neles o espírito de vida para que eles vivam. Porei nervos, farei crescer carne, estenderei pele, porei neles o espírito de vida, e viverão.
Houve um ruído enquanto Ezequiel profetizava. Ossos procuravam seus pares, enquanto nervos, carne e pele se estabeleciam em cada esqueleto recomposto! Sim, estes são os ossos de toda a casa de Israel (que aqui aponta para a Igreja). O Senhor diz: - Eu abrirei as vossas sepulturas (hb. queber, e não Sheol, ou seja, túmulos) e vos farei sair delas, ó povo meu! Porei em vós o meu Espírito e vos porei na vossa terra!
Nervos, carne, pele, mas não sangue! Por que? Porque o hálito de vida na ressureição está na água do Espírito! A ressurreição dos mortos é um dos grandes mistérios e manifestações de poder do Deus Todo-Poderoso! Não importa onde estejam os restos mortais. Somente Deus sabe onde estão os ouvidos que ouvirão o som da trombeta de Deus! Muitos do que dormem no pó da terra ressurgirão para a vida eterna (Dn.12:2).
Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos (Is.26:19).
José do Egito parecia ter a revelação sobre a ressurreição dos mortos. Em Gn.50:25, ele fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui. Os ossos de um crente não ficam no mundo (Egito), e sim, serão transformados para viverem eternamente no Paraíso de Deus! Em Êx.13:19, Moisés honra o pedido de José, e leva seus ossos consigo quando saiu do Egito.
Assim, mesmo em meio às dores que nos separam daqueles que amamos (meus filhos e eu somos um exemplo vivo desta dor recente), a nossa esperança e certeza devem focar na realidade das promessas de Cristo, de Sua ressurreição e da nossa ressurreição pela ressurreição Dele! Morremos com Cristo (Rm.6:8), fomos sepultados com Cristo (Rm.6:4), ressuscitamos com Cristo (Ef.2:6), e com Cristo estamos assentados nos lugares celestiais (Ef.2:6)!
Vamos dar asas à fé: nossos amados não estão mortos, mas dormem. Estão vestidos de branco puríssimo em estado espiritual no céu, em gozo eterno, desfrutando de frutos deliciosos em árvores sem fim, reconhecendo e se alegrando quando encontram amigos e parentes, adorando e rendendo graças a Deus, em paz, harmonia, com direito a mansões celestiais que Jesus preparou. Jerusalém celestial é imensa: é um cubo com 2200 quilômetros de comprimento, largura e altura, e um muro que a contorna com uns 72 metros de altura aproximadamente. Não há inverno ali. A glória de Deus ilumina aquela cidade, em meio a montanhas e desfiladeiros belíssimos, regados por cores desconhecidas para nós. A água vem do Rio da Vida que nasce no Trono de Deus. Ali estão Abraão, Isaque e Jacó. Afinal, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (Mt.22:31-32).
Se o sangue de Abel fala até hoje (Hb.11:4), o pó da terra ouve! Os anjos, querubins, serafins, arcanjos, os vinte e quatro anciãos, os quatro seres viventes, os espíritos dos justos aperfeiçoados, todos sabem que pouquíssimo tempo falta para que sejam reunidos à voz do arcanjo, e desçam à terra com o Senhor para que ao som da trombeta de Deus, em fração de tempo impossível de se expressar em termos físicos, e se unam aos corpos que ressuscitarão e serão imediatamente transformados em corpos de glória! Assim, estes corpos de glória receberão seus espíritos aperfeiçoados e serão arrebatados às nuvens. Este é o corpo da eternidade! Às Bodas e aos galardões!
Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (1Ts.4:17).
Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras (1Ts.4:18).

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