Sucot - A Festa dos Tabernáculos
- Rubens Szczerbacki
- 30 de set. de 2020
- 7 min de leitura
Na minha época do Scholem, na semana anterior a Sucot, enquanto a marcenaria cortava tábuas para montar barracas, as meninas do áudio-visual (era assim que chamávamos tudo aquilo relacionado às artes) preparavam as bandeirinhas coloridas, meio que à semelhança da festa de São João comemorada em junho pelos católicos. Afinal, qual a criança que não gosta de entrar e brincar numa cabaninha?
Mas o que significa a festa das cabanas? Fica mais fácil, por exemplo, entender que Pessach[1] fala da libertação do povo de Israel, escravo por 430 anos no Egito; ou que Purim[2] comemora a salvação dos judeus do jugo persa, conforme Meguillá[3] Ester. Mas, por que Deus estabeleceu a festa dos tabernáculos? O que ela prefigura? Seria apenas uma brincadeira para crianças?
O livro de Levítico, em seu capítulo 23:33-44 ensina que a festa dos tabernáculos (hb. Sucot) é uma festa de sete dias que deve ser comemorada do 15° ao 21° dia do sétimo mês (Tishri). Sucot traduz literalmente abrigos temporários ou provisórios. É uma festa de sete dias, cujo oitavo dia, tal qual o primeiro, seriam de santa convocação[4]! E também dias de descanso[5]! Uma festa de sete dias, cujo oitavo dia seria de santa convocação! Parece estranho, não?
Literalmente, no final da estação agrícola, logo no primeiro dia da festa, quando todos os produtos da terra fossem colhidos, esse texto da Torá nos ensina que deveríamos tomar frutos de árvores formosas, ornamentais (pri etz hadar); ramos de tamareiras (kapot temarim); ramos de árvores frondosas (anaf etz abót); e salgueiros de ribeiras (arbei nachal); e, por sete dias, nos alegrarmos perante o Senhor, nosso Deus[6].
E então percebo que os sábios do Talmud nomearam pri etz hadar, de etrog; kapot temarim, de lulav; etz abót, de hadass; e arbei nachal, de aravá! Uns ensinam que o etrog tem sabor e aroma; que o lulav tem sabor, mas não tem aroma; que a murta tem aroma, mas não tem sabor; e que o salgueiro não possui nem um nem outro. Outra linha de sábios diz que as quatro espécies também representam a união dentro do indivíduo: que o etrog tem a aparência do coração; o lulav da espinha dorsal; os hadassim simbolizam os olhos; e o salgueiro, a boca. E por aí vai.
Eu não encontrei as expressões hebraicas etrog (cidra amarela) e lulav (tamareira) na Torá! Salgueiros de ribeiros como aravá, só é encontrado em Jó.40:22, e hadass (murta) aparece em Ne.8:15 e Is.55:13.
Eu entendo as quatro espécies da seguinte forma: pri etz hadar aponta para ornamento, esplendor, honra, pleno de glória e majestade; tamar prefigura firmeza; etz abót, aquilo que tem folhagem entrelaçada, frondosa, densa com folhagem, viçosa; e arbei nachal aponta para torrente, manancial, como leito de um curso d’água.
Ora, se isso não é um chamado profético para que aquele que crê desfrute da graça do Senhor desde o primeiro dia da festa! Só Yeshua carrega em Si mesmo todos estes atributos! Ele é pleno de glória, de honra, majestade, autor da vida, o manancial de águas vivas!
Não foi sem propósito que no último dia, o grande dia da festa (Hoshaná Rabá), levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva[7].
Sucot é a terceira das festas peregrinas, conforme Deuteronômio 16:16. É para ser lembrado como memorial na terra, mas é, essencialmente, uma festa celestial!
Por sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais em Israel habitarão em tendas de ramos, para que as vossas gerações saibam que eu fiz habitar em tendas de ramos os filhos de Israel, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus[8].
Não podemos perder de vista que espiritualmente o Egito simboliza o mundo! Isso é fácil de ser constatado quando percebemos a forma como o povo de Deus era tratado pelo Egito!
Literalmente, Israel foi livre da perseguição de Faraó, atravessou o mar em uma prefiguração evidente do arrebatamento da igreja e habitou em tendas provisórias (sucot) até alcançar a terra prometida! Nenhum filho de Israel saiu do Egito sem participar do cordeiro[9]! Não foi fácil, houve lutas, mas Josué (hb.Yeoshua) liderou o povo para que se cumprisse o propósito de Deus! Esta é a primeira visão, da qual devemos extrair as verdades proféticas e espirituais nela contidas, se não, estaremos apenas vivendo de memoriais bíblicos!
Certamente para os judeus, tanto a Igreja quanto o Arrebatamento são referências bíblicas estranhas, embora não devessem ser! O capítulo 57 de Isaías[10] começa assim:
Perece o justo, e não há quem se impressione com isso; e os homens piedosos são arrebatados[11] sem que alguém considere nesse fato; pois o justo é levado antes que venha o mal e entra na paz; descansam no seu leito os que andam em retidão.
Sucot está plena e diretamente associado ao fim dos tempos profetizado por Daniel, quando o anticristo confirmará uma aliança obrigatória com muitos por uma semana. Aqui, entenda-se uma semana de anos como sendo um período de sete anos.
Sete anos literais, em que a Igreja será guardada em Sucot, em abrigos temporários, livre da hora da tribulação que há de vir sobre o mundo[12], o tempo da septuagésima e última semana de Daniel[13]! Enquanto o mundo e Israel passarão por uma grande tribulação num período de sete anos, a Igreja viverá o tempo das Bodas e dos galardões neste mesmo período! Israel, em grande aflição na terra; a Igreja, em festa e sucot no céu! Essa é a realidade profética e espiritual que a literalidade de Sucot nos traz!
Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais[14].
A festa dos tabernáculos (hb. Sucot) se inicia com uma santa convocação, para um jubileu definitivo (Lv.23:40), quando todos os frutos da terra são colhidos, ou seja, quando se der a plenitude dos gentios, descrito em Romanos 11:25! Assim, Sucot é uma festa que se inicia no arrebatamento da Igreja[15] e finda no Dia do Senhor, quando Ele voltar a Sião[16]! Sucot se configura ao som do shofar de Deus, conforme 1Ts.4:16-17:
Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
Então vejamos agora como o texto de Levítico 23:42-43 se encaixa profeticamente para a Igreja!
Por sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais em Israel habitarão em tendas de ramos, para que as vossas gerações saibam que eu fiz habitar em tendas de ramos os filhos de Israel, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus[17].
As tendas de ramos nos aguardam!
Deus estabeleceu um cronograma para alcançarmos a terra prometida, não na terra, mas no céu! Neste cronograma existem marcos. Estes marcos são as festas! As três festas peregrinas são: Pessach, Shavuot e Sucot! Nessa ordem! Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos.
Shavuot, como Sucot, são festas originalmente agrícolas, recebidas como ordenanças a partir do Sinai! Pessach, originalmente, também celebrava o início da Primavera, no primeiro mês da colheita da cevada. Shavuot (festa das Semanas, da Colheita ou da Sega) fala da primeira colheita na terra e aponta para os primeiros frutos do espírito. Sucot prefigura a colheita de todos os frutos, no fim da estação agrícola, e prefigura o arrebatamento da Igreja, quando se configurar a plenitude dos gentios!
Mas quem são estes frutos?
Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima[18].
A habitação de Israel em tendas no deserto aponta para Sucot. Sucot é provisório, temporário! Jerusalém Celestial é a nossa pátria eterna!
Espiritualmente falando, Cristo, as primícias, nossa Páscoa, o Cordeiro de Deus, já foi sacrificado por nós[19]. E isso aconteceu num dia 14 de Nisã! O Senhor fez questão que Cristo fosse crucificado exatamente neste dia! Não foi dia 13 nem dia 15! Pessach é dia 14 de Nisã[20]! A festa de Shavuot, Pentecostes, ocorre 50 dias após a Páscoa e aponta para as primícias do Espírito que nos foram reveladas nas primeiras conversões através de Paulo, Estevão, Pedro, João, os demais apóstolos, Barnabé, Thiago e Judas, irmãos do Senhor, Priscila e Áquila, Apolo, Lucas, Silas e tantos outros que se converteram ao Senhor quando houve a descida do Espírito Santo![21]
O Senhor tem cumprido Seu cronograma! Dois marcos, duas festas já aconteceram! Falta uma festa! Pessach e Shavuot já foram comemorados no Espírito! Falta Sucot! A estação agrícola está chegando ao fim, quando todos os frutos serão colhidos, para uma festa de sete dias, onde o primeiro e o oitavo dias serão de santa convocação! Quando o Senhor nos tirar do Egito (do mundo), habitaremos em tendas temporárias por sete dias!
Ninguém sabe o dia da vinda do Senhor, do arrebatamento da Igreja, mas quem poderá afirmar que o maior e mais espetacular evento da história, desde a eternidade, não vai acontecer num 15 de Tishri, o primeiro dia de Sucot, em algum ano próximo a 5781? As primeiras duas datas foram cumpridas literalmente! Por que a terceira festa não seria também? E certamente não vai demorar! Estamos no amanhecer do terceiro dia!
Disse também o SENHOR a Moisés: Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã, e lavem eles as suas vestes e estejam prontos para o terceiro dia; porquanto, no terceiro dia, o SENHOR descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai . . . E aconteceu ao terceiro dia, ao amanhecer, que houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial[22].
Sucot é festa! Jesus disse em Jo.7:8: Subi vós à festa! Ele falava pelo Espírito, pois após dizer que ainda não era chegado Seu tempo, Ele seguiu para Jerusalém em oculto!
Mas estamos falando de uma festa de sete dias, que tem seu oitavo dia! O número oito na Bíblia aponta para algo que transborda: sete mais um! Oito pessoas foram salvas através da arca; são oito dias para o menino judeu sacramentar uma aliança com Deus! O número oito alude à eternidade, a uma aliança eterna entre Deus e o homem, mediada por Jesus! Isso é Shemini Atzeret!
Olhemos para Yeshua, autor e consumador da nossa fé! Ele deu a vida por nós, Se fez maldição em nosso lugar para que nós estivéssemos na festa com Ele! Ele está preparando a festa para nós! E lá, Ele nos espera de braços abertos!
[1] Páscoa judaica [2] Sortes [3] O Livro de Ester [4] Lv.23:36 [5] Lv.23:39 [6] Lv.23:40 [7] Jo.7:37-38 [8] Lv.23:42-43 [9] Ex.12:28 [10] Is.57:1-2 [11] Almeida ARA -hb. neessaf hatsadik - os justos são retirados, reunidos na companhia de outros, removidos, ajuntados. [12] Ap.3:10 [13] Dn.9:27 [14] Mt.24:21 [15] 1Ts.4:13-17 [16] Is.52:8 [17] Lv.23:42-43 [18] Tg.5:7-8 [19] 1Co.5:7 [20] Ex.12:6 [21] At.2 [22] Ex.19:10,11;16

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